Acordar cedo no sábado não é legal. Especialmente depois de uma noite de sexta, digamos, conturbada. Mas lá fui eu, pra bienal, com o espírito desarmado, para o Café Literário. Qual a minha surpresa, quando percebí que cheguei no mesmo momento que meu entrevistado do dia: Leonardo Boff. Fiquei mais surpresa ainda quando o autor viu seu livro na minha mão e veio falar comigo. É, o Boff pediu para me dar um autógrafo. A bela dedicatória está aqui ó:
Aproveitei e já fiz a entrevista na hora, lógico. Mas depois eu conto, porque após essa feliz coincidência, entrei no já iniciado bate-papo com Carlos Heitor Cony.
Cony falou de sua carreira de jornalista. Contou que deve ser o único repórter que ao ser demitido teve um chefe pedindo demissão junto em solidariedade. O escritor falou também sobre José Sarney e os perigos da imprensa, lembrando que o mesmo Sarney que hoje é excomungado é o mesmo que ontem era exaltado. Como isso é um blog, posso dar minha humilde opinião e dizer que concordo com ele. É preciso cuidado na pista.
Outro ponto interessante foi quando Cony falou sobre a figura de seu pai em sua literatura. Questionado sobre seu pai assumir papel de vilão em seus livros, com muito bom humor Cony contou que seu pai era um homem muito feliz e então soltou a seguinte frase: "a felicidade é uma forma de vilania". Arrancando sorrisos da platéia, Cony explicou que a felicidade de seu pai o incomodava, como na vez em que ele o encontrou no ônibus e seu pai começou a falar sobre gonorréia. Em alto e bom tom. Desde então, Cony tomou seu pai como parâmetro para suas ações. Sempre que tem uma dúvida, diz se perguntar: "O que meu pai faria?" E então ele vai e faz o contrário.
Depois da diversão que foi o café com o Cony, chegou o horário do Leonardo Boff. E aqui vale um parêntese: eu nunca tinha lido Boff até ontem.
No ônibus para a bienal abrí o livro do início do post "A Opção Terra - A solução para a Terra não cai do céu". Esse papo de vamos unir nossas forças e salvar o planeta pra mim parece um tanto pretensioso. Meio de má vontade comecei a folhear (acho que eu nem devia dizer isso aqui né?) e tomei na cara. O cara - Leonardo Boff - tem uma visão incrível disso tudo.
Com capítulos super explicativos e com respaldo teórico (todos eles têm uma extensa bibliografia no final), o teólogo-filósofo dá um banho em muito eco-chato. O capítulo que lí fala sobre a mesma idéia interessante sobre a qual ví um vídeo esses dias no youtube: o fato de que a Terra (Gaia) é um macro-organismo que tem passado por catástrofes através dos milhares de anos. E que se o ser humano não se cuidar, Gaia se livrará dele. Resumindo: se entendí direito, ao invés de dizer que nós vamos acabar com o mundo, o certo é dizer que se não cuidarmos bem do planeta ele é que vai acabar com a gente.
Boff começou a conversa dizendo que o Café Literário com o Cony lhe serviu para desopilar os bofes. Eu sabia que aquela conversa prometia. O que mais pensar de um cara que diz que se você não se cuidar com o vaticano cai na fogueira?
O teólogo alertou para o fato que o ser humano está consumindo mais do que a Terra pode produzir e que até o final do século a projeção é de que a temperatura do planeta aumente em 9°C. Ao ser perguntado sobre ser ou não vegetariano, Boff disse que não e se explicou dizendo que o gado produz muito gás metano, na ruminação e na flatulência, e que, portanto, come a carne para diminuir o metano na atmosfera. Pode?!
Curiosos para saber minha pergunta para o escritor? Perguntei como um cara que acredita no Big Bang consegue unir a visão científica e evolucionista com a teologia e a fé. Boff disse que para isso a grande questão é onde colocamos Deus. Para ele, Deus está abaixo, antes de tudo, é o mistério e o inefável. A base do universo. O escritor disse ser bobagem a teoria criacionista, nada de Adão e Eva para ele. Boff falou que Deus está toda hora criando, constantemente, ou voltaríamos para o nada. Visão interessante né? Bem, eu sempre achei a tal história do Adão e Eva muito mal contada mesmo...
O Café Literário é uma ótima oportunidade pra conversar com grandes pensadores. Além de tudo, o café e o pão de queijo são de graça...
É para alimentar o corpo e a alma.
Hoje tem Antônio Cícero às 15h, Lucia Durães às 16h e Francisco Pimpão às 17h.
A programação completa está no site da bienal. Tem o link no post anterior.
Termino com duas frases legais que ouví no Café ontem:
"Eu escreví, mas ninguém tomou providências" - Carlos Heitor Cony
"A igreja é uma coisa muito complexa: há desde pedófilos até santos" - Leonardo Boff.
domingo, 30 de agosto de 2009
Sobre Cony e Boff
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Acho os dois fantásticos. Eu não fui a esse bate-papo pq cheguei de volta da palestra do Boff com a Marina Silva depois da meia-noite, e teria que madrugar para atravessar toda a cidade e chegar lá às 10h de sábado rs... O Cony cada vez me admira mais. Tem um texto incrível que beira a perfeição em termos de síntese.
ResponderExcluirÉ, valeu bem a pena acordar cedo. Eu tinha ido dormir às 5h.
ResponderExcluirMuito interessante a visão do Boff. E, para mim, "vamos unir nossas forças para salvar o meio ambiente" é coisa de Capitão Planeta mesmo! hehehe Show de bola o blog, Lu! Parabéns e sucesso!
ResponderExcluirBeijos
é na verdade a visão do Lovelock tomada emprestada pelo Boff... Que bom que gostou do blog! Apareça sempre! Abç...
ResponderExcluirOlá Lu!
ResponderExcluirO Boff é ótimo! Meio ambiente? Paremos com hipocrisia né... Hehehehehehe!
Trate de escrever um post sobre o Tessa hoje hein!
Beijos!
Corrigindo, Tezza. =S
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