segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ruy Castro - o leitor apaixonado

A conversa com Ruy Castro na Bienal de Curitiba foi muito agradável. Não publiquei antes porque estava esperando pra ver se chegava a foto que a Gabi Ruic tirou enquanto eu o entrevistava, pra postar junto, mas hoje a @pittyleone falou do Ruy e deu uma p... vontade de postar as melhores partes do Café Literário aqui. Lá vai então:

Ruy Castro é biógrafo, pra quem não sabe, e escreveu livros sobre Garrincha, Carmen Miranda e Nelson Rodrigues. E todas suas biografias são incríveis. Por que? Como ele consegue? São as perguntas que não querem calar. Ruy contou um pouco do seu processo de elaboração. Pelo jeito tem um passo a passo que tentarei montar aqui:


1) Certifique-se de que o seu biografado esteja morto. 
Estando morto, certifique-se de que o defunto esfriou. Não dá para escrever uma biografia de gente que está viva. Acontece o que aconteceu com a biografia do Roberto Carlos. Ou o biografado diz que dará liberdade total e em algum momento do livro quer que algo seja omitido. Se o biografado morreu há pouco, a família e os amigos só lembrarão dos bons momentos. Ou seja: biografado bom é biografado morto.


2) Biografia tem que ser "não autorizada".
Opinião do Ruy baseada nos mesmos motivos do tópico anterior, mais a imparcialidade.

3) Você vai ter muito trabalho.
Elaborar biografia é uma tarefa hercúlea. No caso do Ruy Castro, ele diz levar de dois a três meses só lendo e tomando nota de tudo que acha sobre o biografado da vez. Mas não é só ler. Ele passa 10, 20, 30 vezes pelo mesmo texto. Isso mesmo. Animador? Espera pelo próximo tópico.


4) Você vai ter muito trabalho meeesmo.
E também é preciso uma boa memória, uma vez que além da trajetória do seu personagem, é preciso descobrir dados como se ele tinha carro, se era casado, onde morava. Depois de tudo descoberto, isso tem que ficar guardado na cabeça do entrevistador (biógrafo), para cruzar com os dados que conseguirá em campo - nas entrevistas com amigos, parentes, etc. Sabe essas entrevistas? Podem ser até 80, 100 encontros com a mesma pessoa.

5) Além da boa memória é preciso paciência. 
Sabe essas fontes que o biógrafo vai entrevistar? Então. É preciso encontrá-las primeiro. Ruy Castro já levou até dois anos para achar uma fonte.


6) Nada de gravar as entrevistas.

Ruy Castro nem tem gravador. Isso faz com que as pessoas fiquem tímidas e não te contem tudo que sabem.


7) Nada de poupar o biografado.
Ele é humano, portanto tem defeitos. "Biografia é um exercício de amor, quero descobrir os podres, tragédias, dramas, porque isso enriquece o personagem". Palavra de Ruy Castro (amém).


Sobre as biografias que escreveu, Ruy falou que a biografia da Carmen Miranda, Carmen, foi a que mais gostou de fazer. Segundo ele, porque a história da pequena notável é permeada por tragédia, sucesso, dependência química, o Rio dos anos 20, Hollywood e NY dos anos 40... 


Quanto ao livro Chega de Saudade, que retrata a Bossa Nova, o escritor falou que o título é um desabafo, um acorda mesmo, tipo CHEGA de saudade pô, passou, não volta mais. CHEGA!


Falando nos títulos dos livros: Ruy sonhou com o título do livro que escreveu sobre Garrincha, Estrela Solitária. Quanto ao livro sobre Nelson Rodrigues, Ruy falou que nesse caso era o "óbvio ululante". Ele não achava um título para o livro e ele (O anjo pornográfico) estava lá o tempo todo, num desses textos em que ele passou os olhos 30 vezes, e é uma autodenominação do próprio Nelson numa entrevista concedida a uma revista.


Pra terminar, uma curiosidade: Ruy Castro é viciado em escrever. Em seus livros, escreve desde à orelha até a 4ª capa.


Dica de livro do Ruy para os leitores do TodaLetra: O lugar escuro - Heloisa Seixas, ed. Objetiva.

Ah, vem novidade por aí: Um novo livro do autor, com o título provável de Raios & Balas.

"O passado é bom porque éramos jovens nele" - Ruy Castro.

3 comentários:

  1. Boa, Luciana! Bola na rede pra você e para os amantes da literatura. Parabéns!!!!

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  2. Muito bom. Gostei muito do Ruy. A mesa-redonda dele com o Bloch foi a melhor da Bienal, na minha opinião. Vai estar de volta à Curitiba na Feira do Livro.

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  3. Parabéns pequena!!!! adorei teu blog!!!
    escreve com competência de "gente grande" rsrsrrsrs.

    te adoro flor!!!
    Anne

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